quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A união faz a força

Henrique Andrade Camardo, do Mercado Ético*

Vinhedos em Bento Gonçalves, cidade localizada na região de Serra Gaúcha

.O céu era azul brigadeiro. O frio cantado por Djavan, aquele que vem lá do Sul, deve ter ficado ainda mais para baixo do mapa. Nem parecia inverno ali naquela terra que já foi beijada pela neve em invernos passados. Vestígios da estação só eram denunciados pelas parreiras secas no Vale dos Vinhedos. Como me explicou um morador local, as plantas estavam descansando para produzirem as uvas dos vinhos agora finos da região.

De qualquer forma, a sensação era de verão em Bento Gonçalves, cidade localizada no pólo industrial da Serra Gaúcha, a uma hora e meia da capital Porto Alegre. Com exceção de duas ou três pessoas que ignoravam as altas temperaturas daquela sexta-feira (28/8), todos estavam de mangas curtas.

Mas não era hora de passear. Logo de manhã, quando cheguei ao município, tive uma reunião com Tatiane Merlo e Fabiane Locatelli. Elas são coordenadora do Centro de Competência e diretora da Fundação Proamb, respectivamente. Em nossa conversa, as duas me explicariam sobre a história e trabalhos desenvolvidos pela instituição. Aliás, esse era o principal motivo da Fundação ter me convidado para passar dois dias em Bento.

Foram horas de bate-papo com Locatelli e Merlo. Mas o que realmente chamou minha atenção foi a história de como tudo aquilo teve início.

Imagine empresários sofrendo pressão de uma agência ambiental - no caso a FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental do RS) - para que a legislação ambiental fosse cumprida. Havia ameaças de multas e de fechamento de fábricas. Em outras palavras, o recém-criado órgão do estado estava fazendo o seu trabalho.

Diante do cenário, um grupo de 31 empresários se uniu e criou a Fundação Proamb. O primeiro objetivo era solucionar a questão dos resíduos sólidos de suas fábricas, evitando assim ações mais severas da FEPAM.

O aterro

A resposta viria de uma viagem feita à Alemanha, de onde foi importada a técnica de armazenagem de resíduos industriais.

Em visita ao aterro, pude ver como isso funcionava. A grosso modo, cava-se um piscinão no chão com profundidade que vai de cinco a oito metros e extensão de até 50 metros. As paredes do buraco são cobertas com camadas de um plástico especial, chamado membrana geológica, e um tecido isolante. São eles que impedem o contágio pelo lixo industrial, que é dividido em duas classes: I, que é tóxico e pode contaminar o solo; e o II, que não oferece risco, mas ainda não conta com tecnologia de reciclagem. Quando o depósito se enche, é feito o seu “envelopamento”: cobre-se o lixo com uma camada grossa de concreto.

Vista aérea do aterro sanitário da Proamb

A escolha por esse tipo de aterro foi feita devido ao seu custo-benefício. Mas mesmo com a união de 31 companhias, o custo de um milhão de dólares ainda estava acima das possibilidades da fundação.

Foi então que o grupo decidiu passar o chapéu. Outras 16 empresas que enfrentavam o mesmo problema foram convidadas a participar da iniciativa. Com os novos integrantes, o projeto começou a sair do papel e foi inaugurado em 1999.

Marcio Chiaramonte, presidente da Proamb, ressalta que essa não é a única solução para o problema do lixo industrial. “Mas essa é sim uma solução e foi a que se tornou possível para nós”, diz. “Não fazemos isso porque somos bonzinhos. Claro que estamos preocupados com as questões ambientais, mas a verdade é que esse aterro rende muito dinheiro”, afirma.

Isso não significa exatamente lucro, até porque a Proamb é uma entidade sem fins lucrativos. Como Fabiane Locatelli ressalta, o que a entidade ganha acaba sendo reinvestido em sua própria atividade. O que Chiaramonte quis dizer é que, se as empresas não derem um fim adequado ao lixo, receberão multas severas e, por fim, acabarão perdendo dinheiro.

O fim do lixo?

Lixo armazenado no aterro sanitário da Proamb. Ali ficam armazenados resíduos de classe I e II

Um segundo ponto que me chamou a atenção foi o fato de que o encaminhamento de lixo para o aterro da Proamb vem diminuindo cada vez mais. Para se ter uma idéia, o projeto previa o atendimento a 44 empresas por um período de 20 anos. Hoje, atende-se mais de 500 e a previsão de funcionamento é de 25 anos.

Como assim?

“Desenvolvemos serviços que, aparentemente, estão matando o nosso negócio”, brinca Marcio Chiaramonte. Ele explica que a diminuição do lixo enviado ao aterro se deve ao serviço de consultoria ambiental. Basicamente, diminuíram os desperdícios.

“Estávamos recebendo papelão sujo de óleo. Fomos ver o que estava acontecendo”, conta o presidente. “Descobrimos que havia uma máquina com vazamento. Os papelões impediam que o óleo sujasse o chão. Só que o papelão e o óleo separados podem ser reciclados. E foi o que fizemos”, disse.

Tatiane Merlo dá outro exemplo. “Antendemos uma companhia que utiliza areia nos moldes de seus produtos. Antes, a matéria era utilizada somente uma vez e logo descartada para o aterro. Com novas tecnologias, foi possível reutilizar essa areia diversas vezes”, conta. “Além dos benefícios que isso traz ao meio ambiente, também gera uma renda extra ao fabricante, que gasta menos com matéria-prima e pode vender os materiais recicláveis”, completa.

Segundo Merlo, isso não significa que a Proamb esteja matando o próprio negócio. Ela diz que o resultado é fruto do esforço de se dar uma destinação correta aos resíduos. Além disso, também é a diversificação das atividades da Fundação.
O caso de Bento Gonçalves pode ser visto como uma forma de enfrentar a questão do lixo industrial. Se as empresas sozinhas não conseguem encontrar uma solução, por que não trabalhar em conjunto?

A questão do desperdício também é gritante, principalmente em um momento em que o consumo entra na mira da sustentabilidade. Como ficou claro na conversa com o pessoal da Proamb, a preservação dos recursos naturais, principalmente no meio industrial, está menos ligada à benevolência e muito mais ao lucro.

Aparentemente, quando se mexe no bolso das pessoas, as coisas andam mais rápido. Não foi assim com o cinto-de-segurança? Não seria essa a solução no campo da sustentabilidade?

* Henrique Andrade Camargo viajou a convite da Fundação Proamb.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um desafio para a construção civil no Brasil

Flávio Bonanome, do Amazonia.org.br

De acordo com a consultoria Obra Limpa, a construção civil brasileira hoje consome mais de 50% de todos os recursos naturais extraídos e é responsável por 60% de todo o resíduo urbano sólido no país. Além da grande produção de lixo, as obras também são responsáveis pela utilização de imensas quantidades de madeira, muitas vezes extraída da mata nativa. Visando diminuir as consequências da construção civil no desmatamento é que já há 13 anos iniciativas brasileiras têm criado mecanismos, como a certificação de origem, para garantir um menor impacto do mercado. Apesar disso, mesmo após todos estes anos, a efetivação destes mecanismos ainda é escassa.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2009 revelou que somente 20% dos brasileiros têm conhecimento do que se trata uma certificação como o FSC, por exemplo. A sigla inglesa (Forest Stewardship Council), trazida ao Brasil há mais de uma década, serve como mecanismo de controle da origem da madeira, atestando que não foi extraída de forma ilegal ou predatória das matas nativas. As primeiras ações das entidades que coordenavam a aplicação do FSC foram parcerias com a construção civil visando uma adaptação para uma construção sustentável.

Somente dez anos depois da implantação do selo no Brasil, em 2006, é que foi concluída a primeira obra pública 100% certificada: uma pequena casa no município de São Leopoldo (RS) que serviria como centro de informações turísticas. No setor privado a realidade não é muito diferente. Apesar de alguma adesão de construtoras à utilização de madeira FSC, os únicos empreendimentos totalmente e prontos certificados são os condomínios Genesis, no interior de São Paulo.

De acordo com Karina Aharonian, coordenadora do Grupo Compradores de Produtos Florestais Certificados, diversos fatores colaboram com a dificuldade na propagação da madeira certificada nas obras. “Existem diferentes causas que inibem a utilização no setor, como a falta de incentivo do governo, os departamentos de compras das empresas, que às vezes se mostram resistentes à mudança de atitude ou o desinteresse do consumidor, que apesar de se dizer disposto a comprar produtos com o selo FSC ainda não está tomando uma atitude prática”, afirma Karina.

A pesquisa da Datafolha mostra que a coordenadora tem razão. Cerca de 85% dos entrevistados afirmaram que comprariam produtos certificados, mesmo se precisassem pagar um pouco a mais por isso. Outra pesquisa, realizada pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (GBC do Brasil, sigla em inglês) apurou que 64% das pessoas colocam entre as três principais prioridades de um edifício a existência de itens de sustentabilidade. Porém, apesar do interesse em se consumir produtos verdes, a realidade é bem diferente.

De acordo com Marcelo Takaoka, diretor da construtora Takaoka, pioneira no mercado de construções civis sustentáveis e idealizadora dos condomínios Gênesis, embora esse discurso esteja presente, quando o consumidor adquire um imóvel ele tem outras prioridades. “O consumidor, na hora que está pensando na moradia dele, não está preocupado com o aquecimento global. Ele está preocupado é se a moradia comporta a família dele, se a casa é confortável, se é bem vedada, bem localizada”, explica.

Outro cenário é possível

Para Takaoka o principal problema em se consolidar o conceito de construção sustentável na sociedade está no modelo usado para a abordagem do tema. “O consumidor não está procurando uma tese de sustentabilidade ou um trabalho cientifico de mudanças climáticas ao comprar uma casa. O que ele quer é ser diferente do vizinho, ele quer mostrar que a casa dele tem um diferencial”. De acordo com o engenheiro a linguagem deveria estar mais longe do ambientalismo e mais próximo de uma propaganda verde. “Antes de dizer que é ecológica, é preciso mostrar para o consumidor que a madeira da casa dele é mais bonita, mais durável, mostrar as diferenças para a madeira comum”, explica.

Com este discurso que tenta se aproximar mais da mentalidade do consumidor, Takaoka conseguiu uma vendagem de 100% em seus condomínios sustentáveis, mesmo com um preço acima da média. “É isto que eu tenho dito nas minhas palestras, enquanto continuar falando de queimada na Amazônia, pagar 30% a mais numa madeira não justifica”, afirma.

Silvo Gava, diretor técnico da construtora e incorporadora Even, também acredita que não adianta esperar uma conscientização do consumidor para mudar este cenário. “Isso nas empresas de construção civil tem que partir de cima mesmo, porque se não, não se consegue implementar políticas sustentáveis”, explica. A empresa dirigida por Gava é um bom exemplo no ramo da construção civil: já há três anos utiliza somente madeira certificada pelo FSC em suas obras.

Para Gava, iniciar o trabalho com material certificado foi uma questão de responsabilidade. “Eu acredito que isso, além de ser uma questão de responsabilidade, é uma questão de princípios, até com as futuras gerações”, afirma o diretor. Segundo ele, a escolha por entrar no mercado sustentável via FSC foi até lógica, tendo em vista que, segundo ele, a primeira coisa que as pessoas pensam quando se fala em ecologia é em árvores. “Então tentamos focar com uma ordem de compra, para não mais negociar madeira que não fosse certificada. Daí engajou todo mundo em conceitos, começaram a surgir idéias boas”, explica.

Ciente de que o cliente ainda não está disposto a pagar a mais por um produto certificado, Gava passou a negociar com seus fornecedores para zerar as diferenças. “Na primeira compra de madeira FSC que fiz, gastei 5% a mais, hoje não gasto mais nada. Consigo a madeira FSC no preço da comum”, explica. Para ele, uma política como esta aplicada pelos fornecedores pode ser essencial para a divulgação da sustentabilidade na construção civil. “Se os fornecedores de produtos sustentáveis fossem mais espertos, venderiam muito mais. Aquele que sair na frente e passar a vender produto sustentável ao preço de mercado vai atrair todos os clientes, e desta forma, forçará os outros fornecedores a fazer o mesmo”, afirma Gava.

Alternativa

Outra possibilidade para a popularização da madeira FSC na construção é, por ironia, um outro modelo de certificação: o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). Vindo de um modelo americano, o Leed é um selo atribuído a obras que possuem, não só matéria prima de origem garantida, mas é totalmente planejada para reduzir os impactos da construção civil no meio ambiente.

A certificação, coordenada pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, contempla as obras que adotem recomendações em cinco grandes grupos: uso racional da água, eficiência energética, materiais adequados e recomendações para ambiente interno dos edifícios. Desta forma, para adquirir o selo, o planejamento deve começar na planta, desde a localização do empreendimento visando diminuir o deslocamento automotivo de seus ocupantes, até o posicionamento em relação ao sol para economizar energia durante o dia.

O selo tem conquistado grande sucesso no setor de imóveis empresariais, isto é, para escritórios e sedes das empresas. De acordo com Nelson Sawakami, diretor da GBC do Brasil, o crescimento da popularidade da certificação é proporcional à procura de grandes empresas por imóveis sustentáveis. “Existem várias empresas que quando vão alugar imóveis para escritórios, sedes para suas matrizes, já exigem a certificação como pré-requisito, como a Toyota, a Suez ou a Petrobrás”, explica Sawakami. A vantagem é que todas as obras com Leed possuem também o FSC.

Apesar disso, a metodologia de certificação é bastante demorada, podendo levar até seis meses depois da obra pronta. Esse processo penoso afasta um pouco a procura pelo selo para os clientes comuns. Somente seis obras já foram certificadas pelo Leed, e mais 139 aguardam o selo, o que, de acordo com Sawakami, é menos de 1% do total da construção civil brasileira.

Mesmo com todas as problemáticas, é possível sonhar com um Brasil com 100% de suas construções com aplicações de idéias sustentáveis. Basta somente a medida certa de pressão da sociedade civil, governança bem aplicada, e como diz Silvio Gava, “vontade real por parte das empresas”.

Fonte: Amazonia.org.br, no http://mercadoetico.terra.com.br/

Energia eólica tem custo mais baixo que as térmicas a gás e diesel

Estudo elaborado pela Eletrobrás e apresentado no dia 4/8 em um seminário promovido pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Apimec/RJ) elimina um dos principais mitos ligados à energia eólica: de que se trata de uma fonte energética cara. O evento foi realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

O chefe do Departamento de Engenharia e Gestão de Obras de Geração da estatal, Marcio Drummond, mostrou aos participantes do seminário que embora apresente um custo de investimento inicial mais caro que as térmicas a gás e a diesel, por exemplo, o custo operacional das usinas eólicas resulta bem menor.

“Com dez dias, a eólica já passa a valer a pena em relação às usinas a gás, por exemplo”, disse Drummond. Na comparação com as térmicas a diesel, bastariam seis dias para evidenciar a vantagem da geração eólica, de acordo com o estudo.

Drummond acrescentou que, “em dois meses, você pode dizer que [a energia eólica] compensa qualquer coisa”. Isso significa que após 60 dias a energia gerada pela usina eólica começa a ficar mais barata que a energia de outras fontes.

O estudo será divulgado oficialmente pela Eletrobrás somente em novembro próximo, durante evento em Recife (PE). Por isso, Drummond não quis adiantar mais detalhes sobre o trabalho.

Fonte: Amazonia.org