Coberturas reflexivas reduzem a temperatura do meio ambiente, combatem o excesso de CO2 e retardam os efeitos do aquecimento global
Com a ameaça do aquecimento global, cientistas têm proposto o uso da geo-engenharia – manipulação do meio ambiente da Terra – para dar respostas mais rápidas e eficientes a este problema. Duas tecnologias simples que estão disponíveis há milhares de anos, coberturas e pavimentos frios, podem se tornar as duas primeiras técnicas de geo-engenharia a serem usadas no combate ao aquecimento global.
Aumentar a reflexão solar das superfícies urbanas reduz o seu respectivo ganho de calor, abaixa a temperatura e evita a transferência de calor para a atmosfera. Este processo de “força radiativa negativa” contribui para o combate do aquecimento global. Em recente estudo a ser publicado no jornal CLIMATIC CHANGE, os pesquisadores e professores Akbari, Menon e Rosenfield calcularam a redução equivalente de emissões de CO2 possível pelo aumento da reflexão solar das superfícies urbanas.
A expressiva maioria das coberturas planas são escuras e refletem não mais do que 20% da luz solar. Pintando estes forros com um material branco ou claro que tem uma reflexão solar de longo prazo de 0,60 ou mais, diminui sensivelmente os efeitos da incidência solar. Tais pesquisadores estimam que a cada 100 m2 de forro pintado com cores claras, se compensa 10 ton de emissão de CO2. Apenas como comparação, uma típica casa norte-americana emite aproximadamente 10 ton de CO2 por ano, e, as emissões de CO2 vêm sendo negociadas na Europa ao redor de US$ 25,00 por tonelada, fazendo com que esta compensação gere um valor de US$ 250,00.
É relativamente fácil convencer (ou até mesmo solicitar) que proprietários de prédios e de grandes construções passem a utilizar materiais claros para pintar suas respectivas coberturas. E para evitar problemas de oferta e demanda, o recomendável é que as coberturas planas sejam pintadas de branco e os inclinados alternativamente com cores frias. Na Califórnia, EUA, a Lei para coberturas planas brancas existe desde 2005 e para os inclinados com cores frias a Lei passa a vigorar em julho de 2009. O uso de cores frias para a pintura de coberturas aumenta a reflexão solar em torno de 0,20 e gera uma compensação equivalente de CO2 de cerca de 5 ton para cada 100 m2, ou algo como metade do que se conseguiria com as coberturas brancas. A reflexão solar em pavimentos pode ser considerada uma média de 0,15, compensando cerca de 4 toneladas de CO2 para cada 100 m2.
Mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas e se prevê que em 2040 este percentual atinja os 70%. Coberturas e pavimentos representam cerca de 60% das superfícies urbanas (coberturas = 20% / 25%; pavimentos = 40%). Akbari, Menon e Rosenfield estimam que a pintura com cores brancas ou frias, tanto em pavimentos quanto em coberturas, nas regiões temperadas e tropicais podem gerar uma compensação equivalente a 44 bilhões de toneladas de CO2 emitidos, cujo valor é da ordem de US$ 1,1 trilhão à razão de US$ 25,00 a tonelada.De forma a tornar mais fácil a compreensão do que significa uma compensação de 44 bilhões de toneladas de CO2, vale considerar este exemplo: um carro emite em média 4 toneladas de CO2 a cada ano.
Aumentando a reflexão solar de coberturas e pavimentos em todo o mundo, se pode gerar uma compensação equivalente à emissão de 11 bilhões de carros por ano. Isto significa tirar das ruas cerca de 600 milhões de carros por 18 anos. (atualmente, estima-se, a frota mundial de carros é da ordem de 600 milhões e deve atingir 1,3 bilhão em 2030).
Se somente as coberturas tivessem suas cores escuras substituídas por cor branca (as planas) e por cores frias (as inclinadas), pode-se conseguir uma compensação da ordem de 24 bilhões de toneladas de CO2. Se levar 20 anos para implantar este tipo de pintura em todas as coberturas, teríamos o equivalente à retirada da rua, metade dos carros que rodam em todo o mundo a cada ano. A compensação gerada pelo esfriamento das superfícies urbanas possibilitaria um atraso importante nos efeitos do aquecimento global, período em que poderiam ser desenvolvidas medidas adicionais para melhorar a eficiência energética e a sustentabilidade.
Os pesquisadores propõem uma campanha internacional para que se usem materiais reflexivos solares quando as coberturas e/ou os pavimentos estão sendo construídos ou quando sofrem reformas, especialmente em regiões temperadas e tropicais. Eles consideram que este programa é uma típica operação ganha-ganha. As coberturas frias reduzem o uso de sistemas de ar-condicionado e aumentam o conforto daquelas construções que não dispõem desta ferramenta (ganho 1); coberturas e pavimentos frios permitem combater as ilhas de calor urbanas no verão das grandes cidades, melhorando a qualidade do ar e o conforto do ambiente urbano (ganho 2); as últimas pesquisas mostram que o uso de coberturas e pavimentos frios podem, sim, reduzir a temperatura global (ganho 3). E instalar coberturas e pavimentos frios em cidades em todo o mundo não exige delicadas negociações internacionais sobre as taxas de emissão de CO2 de cada economia.
Compensação Equivalente de Carros em função de Coberturas Frias
Duração do Programa Compensação Anual de CO2 Compensação Equivalente de Carros
10 anos 2,4 bilhão ton / ano 600 milhões de carros por dez anos
20 anos 1,2 bilhão ton / ano 300 milhões de carros por vinte anos
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Hashem, Akbari
Lawrence Berkeley National Laboratory
Heat Island Group
Arthur Rosenfeld
Comissão de Energia da Califórnia
Fonte: Green Building Council Brasil, 21/01/2009
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